Hoje foi um dia particularmente difícil, aliás como todos os outros ultimamente. O despertador tocou repetidas vezes, os olhos teimavam em não abrir e eu ali fiquei, enroscada nos lençóis, enquanto pensava no que vestir ou tentava rever mentalmente as falas que não sabia para apresentação que tinha pela manhã ou insistia um bocadinho mais na ideia de que ninguém gosta de mim. Quando vi que o relógio não podia esperar mais por mim, decido levantar-me. Vesti-me num ápice, passo os olhos pelo espelho e por momentos sinto pena de mim…Que aspecto horrível…As olheiras pintavam-me o rosto, a palidez de quem precisava de comida davam-me um ar cadavérico, só o olhar triste dava sensação de estar perante um vivo. Computadores, cabos, papéis e mais papéis, um livro e outro livro, dentes lavados à pressa, a comida fica para um momento mais oportuno. Passo por ti e comentas o meu mal aspecto, tu também o fazes e eu em silêncio concordo vocês. Finalmente cheguei…Passo por ti, faço de conta que não te vejo, nem sei bem porquê…Óptimo, uma fila! Não desejava eu outra coisa, e quando finalmente chega a minha vez de ser atendida, encontro-te a ti que tens todos os dias, dias particularmente difíceis. Tu, decides abrir cuidadosamente uma resma de papel, colocá-la correctamente alinhada na fotocopiadora para a seguir não tirares uma única cópia! Enquanto isso. eu espero, pacientemente, eu espero…Reencontro-te, aliás sei que estás ali, estás ali sempre, mas olho o telemóvel fingindo-me distraída. E depois grito contigo e contigo. Vou para a aula. Apercebo-me que fui egoísta. Volto às aulas, e volto a gritar, desta vez contigo e contigo. Apresento o já falado trabalho e vejo-me a destruir o trabalho de um ano…Os níveis de adrenalina descem brutalmente e eu fico completamente alienada. Tempero a tristeza com um croissant e ao primeiro momento de lucidez rogo pragas à estupidez. Vens me buscar para almoçar, não me apetece nada, estou sem força para improvisar sorrisos e conversas sobre tudo e nada. Perguntas-me porque ando tão triste respondo-te que é cansaço. E afinal porque estou tão triste? Não estou! Se calhar estou mesmo cansada…Casa, “Lar doce lar!” Um telemóvel com saldo, posso finalmente emendar as coisas…Um gelado, pão com manteiga, jantar com mãe e o pássaro cresce, cresce e cresce…